O Comitê de Luta pela Legalização do Aborto/ Curitiba comunica que ESTÁ COM SUAS ATIVIDADES PARALISADAS desde o segundo semestre de 2009.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

08.03.2008, ato contra a mercantilização dos corpos das mulheres

Esta foi a fala feita na frente da Diva e da C&A, junto com a Rede - Mulheres Negras/PR, a Artemis e o Transgrupo Marcela Prado:

Quando falamos "mulheres em luta pelo fim da ditadura da beleza" estamos falando de um padrão de beleza e de feminilidade. Esse padrão diz que uma mulher tem que se cuidar. E se cuidar é tentar se parecer com uma modelo, que faz isso em tempo integral. É consumir cosméticos, freqüentar uma academia, não ter um segundo para parar e se informar da vida pública.
É saber que, quando um anúncio de emprego diz que exige "boa apresentação", ele quer um tipo único de apresentação. Saber que você vai ser discriminada se for negra, se for gorda, se assumir a passagem dos anos, se for transexual. Quando nos levantamos contra um padrão de beleza, queremos dizer que não existe só um jeito de ser mulher. Todas nós somos mulheres. Uma lésbica tem o direito de ser avaliada pelo tamanho do seu currículo, não pelo tamanho do seu cabelo. Uma transexual, que tem uma identidade de gênero de mulher, merece o respeito. Não só dos homens, mas também de nós, as outras mulheres.
Nós não aceitamos ter nossa imagem, nossa sexualidade vendida nos comerciais de cerveja. Não queremos aparecer como um acessório numa propaganda de carro. Nós não somos um brinde que vem com uma mercadoria.
A exploração da imagem feminina atinge a todas nós, mulheres, que somos ensinadas que é natural ser tratadas como coisas, desde pequenas. E nós não somos coisas. Nós trabalhamos em casa e fora de casa, e nem sempre temos acesso àquilo que produzimos. Ajudamos a movimentar o mundo. Somos sujeitos desse mundo.
E merecemos ter nossa individualidade respeitada.
Somos com tanta freqüência bombardeadas com esse padrão, que parece que estamos agredindo, desobedecendo uma regra quando não o seguimos. Não. É esse padrão que nos agride, que tenta limitar, e às vezes limita, a experiência de nossas vidas.
É um padrão de corpo, que diz que devemos ser mulheres biológicas brancas, jovens e magras. E é um padrão de comportamento também, que exclui muitas de nós, e que gera angústia e culpa em quem faz outras escolhas.
Nós, nesse dia da mulher, queremos ser solidárias a todas as que são, o tempo todo, solicitadas a dar explicações.
Ter filhos, por exemplo, é uma decisão individual. Mas hoje, em 2008, depois que muitas mulheres lutaram para defender nossos direitos, uma mulher que não quiser ter filhos ainda tem que responder por quê. Ou o contrário, se ela for transexual.
Muita coisa foi conquistada pelo movimento de mulheres. Hoje temos autonomia, nosso nome não é mais atrelado ao de nossos pais e maridos, quando casamos com homens. Mas mesmo assim, a nossa sexualidade continua vigiada. Como se ela fosse ilegítima quando não tem o fim de procriar.
Hoje temos o direito à propriedade, que foi conquistado, mas muitas viúvas lésbicas têm que enfrentar um monte de burocracia para conseguir sua herança, quando conseguem. Temos o direito de trabalhar fora, mas as mulheres negras têm salários menores. Muitas transexuais não são aceitas no mercado de trabalho. E são empurradas para fora mesmo, para a rua.
Temos o direito à vida, e isso é uma conquista porque antigamente a lei só falava nos homens, e não nas mulheres. Mas esse direito à vida é limitado, e muitas mulheres morrem fazendo aborto clandestino de filhos que elas teriam que assumir como se fossem só delas.
Os homens têm uma vida sexual independente dos filhos, porque a cobrança ainda cai toda em cima das mães.
Somos mulheres, com todas as nossas diferenças, e temos direito à vida. E temos direito também aos nossos corpos. Queremos nos libertar da opressão sobre os corpos das mulheres. Temos direito a decidir sobre ele. Não é o governo que tem que decidir por nós. Não ter sua autonomia sexual respeitada dentro de casa também é opressão. Fazer sexo contra a vontade é estupro, dentro e fora do casamento.
Hoje é um dia de nos fortalecer e lembrar que merecemos autonomia, não só diante do Estado como também diante de nossas famílias. E diante da indústria, que fica o tempo todo pedindo para comprarmos e nos vendermos, ao mesmo tempo.
(aqui podia entrar o lema da Marcha: "A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria". Ou outra palavra de encerramento?)
Artemis
Comitê de Luta pela Legalização do Aborto
Rede Mulheres Negras - PR
Transgrupo Marcela Prado